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Nem só de fé vive o homem: como a crença em Nossa Senhora garante o sustento de comerciantes aparecidenses

Mais de 330 lojas operam dentro do Centro de Apoio ao Romeiro dentro do Santuário Nacional de Aparecida, onde 11 milhões de pessoas passam todos os anos

Por João Mendes

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Todos os anos, no dia 12 de outubro, é celebrado o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil Em 2024, estima-se que 117 mil fiéis visitaram o Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo, no fim de semana da data. Com tantos devotos na cidade, além de eclesiásticos e funcionários da Basílica, faz-se necessária uma infraestrutura de recepção para tantos peregrinos.

 

Com isso em mente, foi criado, 26 anos atrás, o CAR (Centro de Apoio ao Romeiro), em frente ao pátio da igreja. Dentro dele existem mais de 330 lojas, em sua maioria de artigos religiosos. Segundo o ecônomo do Santuário, Padre Heliomarcos Ferraz, o local foi idealizado “justamente pensando na melhor forma de receber o devoto na Casa da Mãe”.

 

“Almejávamos muito acolher da melhor forma o nosso devoto, porque entendíamos que, desta forma, também estaríamos evangelizando. Por isso dizemos até hoje que 'acolher bem também é evangelizar”, explica o Padre, em entrevista ao Portal A12.

 

Turismo religioso​
 

Isso se reflete na forma como os próprios lojistas lidam com a fé católica – que eles não apenas vivem, mas também dependem para garantir o próprio sustento. Suelen Barbosa, que vende artigos religiosos no CAR, conta como é essa experiência. “A gente também tem a nossa devoção, então é uma satisfação poder trabalhar com esse tipo de produto. [...] A gente consegue estender um pouquinho da nossa fé com esse trabalho”, afirma.

Além de lojistas como a Suelen, que possui sua loja desde 2020, existem outras pessoas que já trabalham no local há muitos anos. Este é o caso de Daniele Andrini, que, junto ao marido, vende artigos religiosos dentro do Santuário há 26 anos, justamente quando o Centro de Apoio surgiu. Para ela, o trabalho também tem um aspecto que envolve a fé. “A gente ajuda a evangelizar um pouco, né? A gente sabe que isso aqui é um material, mas a gente tenta levar um pouquinho a presença dos artigos religiosos na família, na casa de cada um”, diz.

 

Daniele tem sua fé em Nossa Senhora Aparecida renovada todos os dias. Uma história interessante, que ela conta ter presenciado recentemente, é a de um milagre envolvendo um bebê com um grave problema de saúde: um nódulo na cabeça, que seria fatal caso não operado. Segundo ela, nenhum médico aceitava realizar a cirurgia na criança, devido ao estágio avançado que o tumor já estaria.

 

Quando o menino fez um ano, a situação mudou completamente. “Ela [mãe da criança] achou um médico em Minas Gerais que conseguiria fazer [a cirurgia], mas, antes da operação, fez outro exame de raio-x, e não tinha nódulo nenhum. Mas ela tem as provas de todos os médicos que ela passou [que mostravam] o tamanho do nódulo”, conta Daniele.

 

Após a cura milagrosa, a mãe do menino foi a Aparecida, agradecer pela intercessão divina de Nossa Senhora, santa da qual é devota. Segundo a lojista, acontecimentos como este aumentam mais ainda sua fé. “A gente sabe que nada é por acaso. Até os clientes que entram aqui na loja, nada é por acaso”, afirma.

 

Impacto financeiro
 

Todos os anos, cerca de 12 milhões de pessoas visitam o Santuário Nacional de Aparecida, segundo dados da própria administração. O fluxo de visitantes é maior até mesmo que o de pontos turísticos de relevância mundial, como a Torre Eiffel, em Paris, e o Vaticano, sede da Igreja Católica Apostólica Romana. O fluxo de pessoas anual é maior até que a população da cidade de São Paulo, a mais populosa do país.

 

Tendo apenas 32 mil habitantes, segundo dados do IBGE, a economia de Aparecida gira em torno do turismo religioso, especialmente nos setores de hotelaria e comércio. A dependência do turismo religioso para a economia de Aparecida é tão grande que, em 2021, durante a pandemia da Covid-19, cerca de 70% dos aparecidenses estavam desempregados, pois a cidade não recebia tantos visitantes. O número foi levantado pelo prefeito da cidade, Luiz Carlos de Siqueira (Podemos), o Periquito.

 

Os lojistas do CAR foram especialmente afetados pela pandemia. No auge da contaminação, chegaram a ficar com os comércios fechados por meses, sem poderem receber clientes. Mesmo com a administração do Santuário diminuindo o preço do aluguel na época, foi um período especialmente difícil.

 

“Nem só de pão viverá o homem”, disse Jesus Cristo na Bíblia. Mas, para muitos que vivem em Aparecida, a situação é mais complexa: é preciso, além da fé, do dinheiro gerado, principalmente, a partir da crença em Nossa Senhora. Para os aparecidenses católicos, como a comerciante Daniele, a santa de fato os ajuda. “Nossa Senhora providencia tudo”, assegura ela.

© 2024 por alunos de Jornalismo do 4º semestre da Universidade de Taubaté. Direitos reservados.

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